Na busca por um corpo saudável e pela sua capacidade máxima para gestar e dar à luz a um bebê saudável, reduzir sua exposição a algumas toxinas específicas deve ser um dos seus primeiros passos.
Uma das toxinas que comprovadamente prejudica a qualidade dos óvulos e a fertilidade é o Bisfenol A (BPA). Essa substância é encontrada em quase tudo que comumente utilizamos em nosso dia a dia – de recipientes de plástico a notinhas fiscais – mesmo que há anos existem alertas públicos sobre a potencial nocividade dela à saúde geral do ser humano.
A história do BPA e da fertilidade começa em 1998, quando uma descoberta feita ao acaso acontece nos EUA, em um estudo com ratos de laboratório para estudar o desenvolvimento dos óvulos, percebeu-se que ao lavar as garrafas de água dos ratos com detergente, havia liberação de BPA e um aumento drástico no número de óvulos com anomalias cromossômicas. Mas foi só em 2008 que se publicou um dos primeiros estudos em grande escala sobre os efeitos da exposição ao BPA a saúde humana. Nele, encontraram uma conexão entre a exposição a substância e diabetes, doenças cardiovasculares e toxicidade hepática.
Essas descobertas, confirmadas por outros estudos de grande escala, causaram preocupação porque o BPA é usado em muitas coisas. Essa substância entra no organismo com a ingesta de alimentos e bebidas que foram embalados ou armazenados em material que libera BPA. A absorção via pele também é possível por meio do contato com materiais cobertos dela, como papéis de recibo de máquinas de cartão, comprovantes de compras, notinhas fiscais de mercados, farmácias e comércio.
O BPA é chamado de disruptor endócrino, ou seja, ele causa interferência no sistema endócrino e tem sido constantemente apontado como prejudicial para a atividade do estrogênio, da testosterona e de hormônios da tireoide.
De 2008 até hoje, dezenas de estudos foram publicados mostrando os efeitos prejudiciais dessa substância em processos de Fertilização In Vitro, na qualidade dos óvulos e o impacto negativo no número e qualidade de embriões. Os pesquisadores também encontraram uma conexão entre a concentração de BPA em mulheres e a falha na implantação de embriões que levariam a uma gravidez. Pesquisadores de Harvard descobriram que as chances de falhas na implantação aumentava a medida que havia níveis maiores de BPA na urina.
Níveis elevados de BPA também parecem aumentar o risco de abortos espontâneos. Esse risco aumentado surge, em parte, por causa de um aumento nas anomalias cromossômicas. Especificamente, essa substância interfere no processamento de cromossomos no desenvolvimento dos óvulos. Mas, pesquisas também mostraram que mulheres com níveis elevados de BPA também são mais propensas a perder a gravidez mesmo quando o feto é cromossomicamente normal. Pesquisas adicionais de 2016 sugerem que esse risco existe pela interferência na sinalização de progesterona, tornando o endométrio menos receptivo ao começo da gestação.
Bem, mas a boa notícia é que há muito o que você possa fazer para diminuir sua exposição ao BPA. O momento mais importante para reduzir essa exposição é três ou quadro meses antes de você tentar engravidar, mas também estamos falando da sua saúde geral. Logo, essa redução não se torna importante somente no desejo da gestação, mas pensando na saúde do ciclo menstrual, na sua saúde endócrina.
O seu primeiro passo é avaliar quais os utensílios plásticos na sua cozinha podem ser substituídos facilmente por utensílios de vidro ou aço inoxidável. Dê prioridade aos itens mais velhos e aqueles que entram em contato com alimentos ou bebidas quentes. É na exposição ao calor, ácidos, luz ultravioleta e contato com líquidos que acontece a maior liberação do BPA. Logo, não se preocupe tanto com potes usados para armazenar produtos secos como arroz e farinha, por exemplo.
Avalie potes, tigelas utilizadas em micro-ondas, garrafas e xícaras de plástico, chaleiras de plástico, peneiras de plástico, jarras de liquidificador que são usadas com sopas quentes. Para substituir esses itens, o vidro e o aço inoxidável são as melhores opções.
Fique atento aos anúncios “livre de BPA”. Muitos fabricantes simplesmente o trocam por compostos semelhantes, como o Bisfenol S (BPS). Essas substâncias também podem ser preocupantes, e estudos recentes revelam que o BPS pode causar erros cromossômicos nos óvulos igualmente ao BPA.
Já no que se refere a escolha de água: garrafas reutilizáveis não deveriam conter BPA, porém, se a água tiver passado meses ou anos na garrafa, sob condições de armazenamento desconhecidas, existe risco de certo grau de contaminação por outras substâncias químicas – ftalatos, por exemplo. Eles também têm ação negativa sobre o sistema endócrino.
Sendo assim, o ideal seria bebermos água de garrafas plásticas apenas quando não existe outra opção prática. As melhores opções, de fato, são a água de casa filtrada e armazenada em uma garrafa de aço inoxidável ou água engarrafada em vidro.
E se você já está se perguntando se as embalagens dos alimentos também são um problema, a resposta é não. É mais útil trocar alimentos ultraprocessados por aqueles que estão mais próximos do seu estado natural. A comida tende a apresentar uma quantidade maior de BPA ou de substâncias químicas semelhantes quando é ultraprocessada, enlatada ou preparada fora de casa. Isso porque fábricas e restaurantes fazem uso frequente de recipientes e equipamentos de plástico, que costumam ser lavados com água quente escaldante.
Ao fim, o resumo é que minimizar a exposição do BPA pode ser assustador, mas vale a pena pelo impacto que causa na sua saúde reprodutiva. Não se preocupe com a exposição de todos os dias, detalhadamente. Isso pode lhe deixar paranoica e pouco eficiente. A melhor conduta é promover mudanças que fazem grandes diferenças. O objetivo deve ser eliminar os piores expositores, aqueles com os quais VOCÊ tem mais contato e que tendem a ser a SUA fonte significativa de BPA.
Eu te garanto! A recompensa por reduzir essa exposição não se limita ao engravidar. Pesquisadores tinham um pressuposto de que fetos em desenvolvimento eram especialmente passiveis aos efeitos do BPA. Foi comprovado que esse composto passa pela corrente sanguínea da mãe para a placenta e o bebê, e o BPA foi encontrado tanto no líquido amniótico quanto no feto durante a gestação. E há inúmeros estudos que sugerem consequências sérias a saúde a longo prazo, prejuízos ao desenvolvimento cerebral e do sistema reprodutor, anomalias comportamentais em crianças pequenas.
Não sabemos ainda exatamente quais os riscos causados a gravidez e a vida futura pelo BPA, entretanto, é notável que praticar uma cozinha mais saudável e iniciar hábitos de limitar a exposição a essa substância só lhe oferece vantagens.